A guerra comercial gerada pelas políticas tarifárias implementadas pelo governo dos Estados Unidos durante a administração de Donald Trump afetou diversos setores da economia do país, incluindo a indústria automotiva. A Tesla, maior fabricante de veículos elétricos dos Estados Unidos, expressou preocupações sobre as consequências das tarifas impostas pelo governo americano e seus efeitos nas exportações e na produção da empresa.
Em 13 de março, a Tesla enviou uma carta à Oficina do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) destacando a vulnerabilidade dos exportadores americanos, especialmente as montadoras, diante da possibilidade de enfrentarem tarifas retaliatórias de outros países. A carta, embora não assinada, foi enviada em nome da companhia e reflete as preocupações de empresários americanos com as políticas comerciais adotadas pelo governo Trump.
Impactos das tarifas comerciais dos EUA
A carta da Tesla destaca que os exportadores dos EUA, em particular as montadoras, enfrentam “impactos desproporcionais” quando outros países respondem com tarifas retaliatórias às políticas comerciais dos Estados Unidos. A Tesla mencionou especificamente as tarifas sobre veículos elétricos exportados para países que estão sob sanções americanas, alertando que essas tarifas já afetaram a empresa no passado e que novos aumentos poderiam prejudicar sua competitividade, uma vez que a Tesla depende das exportações de seus veículos para mercados internacionais.
Embora a empresa tenha tentado melhorar a localização de sua cadeia de suprimentos dentro dos Estados Unidos, ainda existem componentes e partes dos veículos que são “difíceis ou impossíveis de obter dentro das fronteiras do país”. Esse fator poderia complicar ainda mais a situação da Tesla caso as tarifas aumentem.
Preocupação da indústria automotiva dos EUA
Além da Tesla, outras organizações da indústria automotiva também expressaram preocupações em relação às tarifas. O grupo Autos Drive America, que representa fabricantes de automóveis estrangeiros nos EUA, como Toyota, Volkswagen, BMW, Honda e Hyundai, alertou que tarifas generalizadas poderiam interromper a produção nas fábricas de veículos do país. O grupo destacou que as montadoras não podem reconfigurar suas cadeias de suprimentos rapidamente, o que aumentaria os custos de produção e, consequentemente, o preço dos veículos para os consumidores. Isso também poderia reduzir a variedade de modelos disponíveis no mercado e, em um cenário mais grave, resultar no fechamento de linhas de produção e perda de empregos na cadeia de suprimentos.
Desafios econômicos para a Tesla
As advertências da Tesla ocorrem em um momento delicado para a empresa, que já enfrentava dificuldades no início de março. As ações da Tesla sofreram a maior queda dos últimos quatro anos, com uma perda de 15% em um único dia, após revisões para baixo nas previsões de entrega de veículos. A queda das ações aumentou a desconfiança dos investidores na capacidade da Tesla de manter seu ritmo de crescimento em um mercado global altamente competitivo.
Embora Elon Musk tenha sido um aliado próximo de Donald Trump, a relação entre o governo e a empresa se complicou devido às políticas tarifárias implementadas pelo ex-presidente. Musk, que foi parte do Departamento de Eficiência do Governo criado por Trump, tem expressado sua preocupação com os efeitos dessas políticas nas empresas americanas, como a Tesla, especialmente diante de represálias de outros países.
Desafios da Tesla em mercados internacionais
A Tesla também enfrenta dificuldades em alguns dos maiores mercados para carros elétricos, como China e Alemanha. Na China, a empresa compete com gigantes locais como a BYD e enfrenta queda nas exportações de sua fábrica em Xangai. Em fevereiro, as vendas da Tesla na China caíram 49%, com apenas 30.688 veículos entregues, o menor número desde julho de 2022.
Na Alemanha, as vendas de veículos Tesla também caíram significativamente, com uma queda de 70% nos primeiros dois meses do ano. Essa queda foi associada, em parte, às críticas a Elon Musk pelo apoio à Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido de extrema-direita, durante as eleições de 23 de fevereiro.
Apoio político e os desafios contínuos
Apesar das dificuldades no mercado, Tesla recebeu apoio de Donald Trump, que anunciou em 11 de março que compraria um veículo da Tesla para uso na Casa Branca. Trump elogiou Elon Musk como um “patriota” e destacou seus esforços para reduzir o tamanho do governo e combater o desperdício de recursos. Embora o apoio de Trump tenha sido interpretado como um gesto de solidariedade, ele não conseguiu dissipar completamente as pressões sobre a Tesla, que continua a enfrentar um cenário de incertezas econômicas e desafios globais.