Um estudo recente realizado por pesquisadores chineses apontou que mulheres que consomem pornografia de forma excessiva têm maior probabilidade de sofrer com baixa autoestima. Apesar de médicos afirmarem há tempos que o consumo de pornografia pode fazer parte de uma vida sexual saudável, especialistas estão preocupados com o aumento do chamado “uso problemático de pornografia” (UPP), que tem sido associado a condições como ansiedade, depressão e sintomas de abstinência.
A pesquisa, conduzida com mais de 500 jovens mulheres, revelou que aquelas com UPP — caracterizado por um desejo persistente e incontrolável de consumir pornografia, mesmo que isso prejudique o funcionamento diário ou os relacionamentos — apresentavam menor “autoaceitação” e dificuldades para estabelecer metas. Os cientistas, que consideraram os resultados importantes, sugeriram que mulheres enfrentando esse problema poderiam se beneficiar de terapias conversacionais para lidar com o vício.
O fenômeno da dependência de pornografia
O fenômeno da dependência de pornografia surgiu junto com a popularização da pornografia via streaming na internet, facilmente acessível por computadores ou smartphones. O Reino Unido, por exemplo, é o segundo país com maior incidência de buscas por pornografia online no mundo, registrando uma média de 16,6 milhões de pesquisas por mês. Nove em cada dez adultos admitem consumir conteúdo adulto, e estudos indicam que uma em cada dez pessoas pode sofrer de algum grau de UPP, com números ainda mais altos entre os jovens, que chegam a assistir até 12 horas por semana. No entanto, o número exato de pessoas afetadas por esse vício permanece desconhecido, já que muitos evitam buscar ajuda profissional por vergonha, constrangimento ou medo de exposição.
Estudo com universitárias chinesas
Na nova pesquisa, cientistas acompanharam os hábitos de consumo de pornografia de 559 estudantes universitárias da província de Sichuan, no sul da China, com idade média de 20 anos. A escolha pelo público feminino se deu porque a maioria dos estudos sobre o tema foca em homens, dificultando a generalização dos resultados para mulheres. As voluntárias responderam a um questionário online que avaliava a frequência com que acessavam pornografia, a forma de acesso, se enfrentavam dificuldades em estabelecer comportamentos direcionados a objetivos e o nível de autoestima.
Um ano depois, as participantes responderam a um questionário semelhante para comparação. Os pesquisadores da Universidade Sudoeste de Ciência e Tecnologia descobriram que as mulheres com níveis mais altos de UPP no início do estudo tinham maior probabilidade de apresentar um uso ainda mais problemático após um ano. Esse comportamento foi associado a níveis médios ou abaixo da média de autoaceitação. No artigo publicado na revista Computers in Human Behavior, os autores destacaram: “Entre mulheres com autoaceitação acima da média, a frequência de uso de pornografia não foi associada ao uso problemático.”
Os resultados indicam que o consumo elevado de pornografia pode gerar “dificuldades em se engajar em comportamentos direcionados a objetivos e na autoaceitação”, afirmaram os pesquisadores.
Riscos da abstinência repentina
Especialistas alertam, no entanto, para os riscos de tentar abandonar o hábito de forma abrupta. Muitos enfrentam sintomas de abstinência e sentimentos desagradáveis. Em 2024, pesquisadores brasileiros revisaram 14 estudos e concluíram que usuários regulares de pornografia que tentam parar subitamente podem sofrer sintomas físicos semelhantes aos de abstinência, como dores de cabeça, calafrios e até náuseas. Até 72% dos usuários relataram esses efeitos, sendo que 57% sentiram “desejos intensos” e 52% experimentaram emoções exaltadas, dificuldade de concentração e nervosismo. Uma minoria — cerca de um em cada 20 — relatou problemas para dormir, sudorese, calafrios e enjoos ao tentar abandonar o hábito.
Os cientistas observaram que, na maioria dos casos, os participantes tinham “desejos intensos” de se masturbar assistindo pornografia, o que levava à recaída. Curiosamente, muitos desses sintomas foram notados até em usuários regulares que não eram classificados como viciados. Após a revisão, os autores pediram mais estudos para investigar o início, características, duração e proporção desses sintomas.
Sexo e saúde
O sexo e a intimidade estão associados a benefícios como melhora da saúde cardíaca, redução do estresse e bem-estar mental. Contudo, tendências recentes mostram que os britânicos estão fazendo menos sexo. Segundo uma pesquisa de 2024 do Royal College of Occupational Therapists (RCOT) com 2 mil adultos, homens e mulheres fazem sexo, em média, 46 vezes por ano — cerca de uma vez a cada oito dias.